O nosso rastejar pela boca!


Por Gilvaldo Quinzeiro

A boca, que suga o leite é também mais tarde, quem triturará o seio materno em um ataque de fúria. A boca não é só lugar de passagem. É também um lugar de identificação e fixação.

O pai da Psicanálise, Sigmund Freud, apesar dos seus gigantescos passos no tocante a conquista da nossa mente profunda, não foi capaz de se livrar do charuto, que mais tarde vem lhe vitimar de um câncer na boca.

O velho ditado de que o “o peixe morre pela própria boca”, talvez, seja um dos motivos ainda que Inconsciente para que o mesmo tenha se tornado em um prato sagrado na boca dos homens.

A boca é em Psicanálise, mais especificamente no tocante a fase do desenvolvimento psicossexual, não só a primeira fase do sujeito, isto é, a fase oral,   como é por assim dizer, o nosso primeiro contato com a realidade; tanto a ‘realidade’, que  engolimos literalmente, como a ‘realidade’ por nós repelida.

O ato de morder, inclusive o mesmo seio que alimenta, revela o quão complexa é a natureza humana ainda que na condição de um bebê.

O sagrado para as sociedades herméticas é mantido apenas pela tradição oral. Os maiores Mestres da humanidade,  nada escreveram,  pois,   ensinavam seus discípulos através dos discursos,  mensagens ou pregações,  entre estes, Sócrates, Buda e Jesus Cristo.

O caboclo na sua cosmovisão, e na sua escuta atenta para tudo àquilo que brota em sua volta, tem o seguinte ditado que ilustra bem, o que foi dito: a única obra, que não resultou da criação de  Deus , foi a boca da cabaça.

Ora, de fato, a boca da cabaça, está mais para a boca do homem, do que para a cabaça, isto é, tal  boca não é outra coisa senão o recorte na coisa, que é puramentemente humana,  assim também, o  momento pelo qual passamos é vento e ventre das nossas condições humanas.

Assim sendo, este mundo não é a só a boca, que nos abocanha, mas a cabaça da condição humana. Em outras palavras, nada há no mundo que também não esteja dentro de todos nós.

Se repararmos bem,  os nossos principais líderes mundiais, vamos constatar sem nenhuma sombra de dúvida que hoje rastejamos com a boca no chão.

Por fim, se conclui que tudo hoje é boca. Tudo hoje é fome. Mas a pior de todas as fomes é aquela na qual o que nos apetece é apenas o medo de virmos ser devorados!




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