O tempo das Cartas de Amor
Por Gilvaldo Quinzeiro
O hoje, não seria como hoje: esmagado por si mesmo, se
como ontem, medíssimos a passagem do tempo pelas cartas de amor!
As cartas de amor
que, não obstante o tempo e as distâncias que as levavam para chegar até seu
destino, permaneceriam não só com seus conteúdos atuais por muito tempo ainda,
como também o perfume das mãos de quem as escreveu se conservaria intacto!
Se assim fosse, o hoje, que tanto nos apressa, aponto de
nos iludirmos que temos asas: este “hoje”, enfim, ainda não teria chegado!
Se o hoje fosse medido pelo tempo em que se aguardava uma
tão esperada carta de amor, carta estas, muitas das vezes percorrendo longas
distancia, de mão em mão, certamente as relações afetivas não se desmanchariam
tão facilmente, como um sorvete nos lindos lábios de agora!
Hoje, enfim, pagamos um preço muito caro, por rapidamente
colarmos frases de amor; frases estas, postadas repetidas vezes por outrem,
cujos destinatários nunca tiveram o tempo ou a delicadeza de lê-las até o
final, entretanto, com muita mais pressa ainda, estas são reenviadas a outros
destinos: todos sem ninguém com tempo a esperar por nada!
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