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A pedagogia das tragédias, e as novas espécies de urubus

Por Gilvaldo Quinzeiro  Os tempos são de completas  escuridões, e as tragédias, como as que estão ocorrendo no Río Grande do Sul, reveladoras dos detalhes macabros. É preciso, pois,  muita atenção ao que não aparece no nosso primeiro plano de visão. É necessário uma leitura mais apurada dos espantosos acontecimentos! Por exemplo , há entre nós quem não seja mais humanamente um de nós! Eis o que também as tragédias do Rio Grande do Sul têm revelados. É claro que, para o bem de todos ,  temos anjos!  O esforço de solidariedade de várias partes do Brasil e de vários setores da sociedade, revela isso. Contudo, estamos também diante de monstros que saqueiam , abusam e disseminam o caos. Mas não só estes. Há entre nós aqueles monstros disfarçados de cordeiros , e que se utilizam da audiência de seus milhares de seguidores para propagarem ódio e mentiras - para estes o que interessa é,  o quanto pior,  melhor! São estes uma nova espécie de urubus, com todas as desculpas as velhas. Sim, estas

Prosperidade! E o parto dos homens?

Por Gilvaldo Quinzeiro  Estamos em pleno trabalho de parto, meus filhos , mas ninguém se preparou para ser a  parteira! E o que temos feito afinal? Nada além de  nos esfolarmos para ser o pai de uma coisa chamada de prosperidade! Sim, nesta sociedade regidas por coach, todos padecemos de  algo em comum: a loucura de termos pretensão de ser a luz do mundo! Mas , o mundo é como uma cobra, assim como nós, isto é, muda de pele de tempos em tempos. Não há remédio que recupere  a pele que já se desgrudou …É como o rio de Heraclito no qual não se banha duas vezes! Para que mundo pedimos as nossas preces? Por quem nos ajoelhamos, se temos dúvidas para onde foi a nossa cabeça? Do que vale pregar a teologia da prosperidade que tanto inunda hoje os templos sem cuidar verdadeiramente  da alma dos homens?  Estamos todos loucamente atrás de receitas milagrosas disso e daquilo. Nunca fomos tão ávidos por milagres! Mas enfrentar a própria dor, esta tem sido a maior de todas as nossas heresias! Amém? M

Sim. Freud tinha razão. As nossas tragédias no divã

Por Gilvaldo Quinzeiro  Enquanto um rio se afoga,  poucos pensam. A maioria arrota suas visões de um mundo despedaçado “ pela força da grana” . E uma onda de  impropérios invade os templos , as redes sociais - moradia também das famílias do bem! Que diabo é isso ou aquilo? Uma multidão de joelhos a posar para a foto mais curtida! Enquanto, os mais afortunados da fé, espalham a febre das fakes news!  Não,  irmãos. Não é a Babilônia, antes fosse! É a seca de homens - a maior de todas as nossas tragédias que nos abate desde  os últimos dez anos! Freud, seria amado hoje não pelas suas explicações, tão assustadoras como os ciclones que arrasam o Sul, mas por ser o único a saber  ouvir , o que se diz não mais com a palavra - mercúrio em nossos rios - mas com a carne viva! Sim, os homens não só perderam  a capacidade da fala, mas a pele , o único interdito entre as coisas pulsantes e o  mau cheiro das nossas vísceras. Em outras palavras, também freudianamente, perdemos os controles dos esfínc

A puta angústia de querermos ser tudo

Por Gilvaldo Quinzeiro  1 - A questão a ser respondida com urgência hoje é a mesma que os homens da pré-história , presumo , sequer formularam: quem somos nós? 2 - Essa é uma questão urgentíssima sobretudo pela falta de cemitérios, seja aqui pela expansão dos tóxicos negócios, seja em Marte, solo sagrado de ninguém. 3 -  Mas também pela falta de braços dispostos ao abraço e a acolhida do outro. 4 - A Terra, moradia plural de todos os bichos e de todas as  insinuações,  não suporta mais aqueles que,  sem ao menos conhecerem  a si mesmos,   destroem tudo com tanta rapidez sem  sequer terem tempo para suas digestões - mas tudo isso pra quem?  4 - A certeza é que ofendemos tanto aos insetos, senhores das suas vidas, quanto a nós ,  escravos da nossa  santa arrogância. 5 -  A outra certeza é que fizemos todas as guerras, algumas destas, não menos sangrentas, mas em nome de “ Deus”. Outras tantas, sem anéis nos dedos, mas  em nome de reis , sem falar naquelas outras guerras ,  que foram feit

Assim me falou uma borboleta

Por Gilvaldo Quinzeiro  1 - Estamos todos, homens, insetos, plantas e animais fazendo parte do mesmo tecido do qual somos apenas as suas cores e costuras. Não estamos nem acima e nem abaixo dos outros seres, apenas não os contemplamos no mesmo espelho em que a nossa face transborda. 2 - Todas as coisas estão em permanente conexão. Tudo pode se tornar um “vizinho” do qual podemos lhe bater à porta em busca de informações . 3 - Uma borboleta é mais do que uma borboleta. 4 -Em outras palavras, tudo são significantes. Ou seja, pode ser conectado ou capturado pelo inconsciente, que é estruturado pela  linguagem. 5 - O dito aqui  alarga o conceito do significante lacaniano, bem como do seu conceito de inconsciente estruturado pela linguagem? 6 - Seja lá o que for, o significante lá onde este topográficamente habita,  estar “vivo” assim como um inseto na ponta de um graveto. O significado é a sua  “morte” , assim como o peixe pescado. 7- Será que foi isso que o filósofo Nietzsche quis dizer a

O narcisismo do homem contemporâneo e a verruga no espelho da manifestação da Avenida Paulista

Por Gilvaldo Quinzeiro  O problema do homem contemporâneo mais do que o seu narcisismo, é , ao inflar a sua própria imagem, quebrar o espelho. Ou seja, se antes este já era cego para o espelho que não refletisse a face que não fosse a sua, agora se afogou de vez naquilo que não lhe é fonte de ilusão. Uma ferida narcísica, a exemplo do ocorreu com o geocentrismo, quando da quebra deste paradigma ocasionado pelo  heliocentrismo , afetou por conseguinte a forma como o homem se via . Digamos que ali nasceu uma “verruga" na ponta do seu nariz. Essa verruga aumentou de tamanho por conta de mais dois  golpes sofridos em nossa autoimagem, a saber, por conta do evolucionismo de Charles Darwin e do inconsciente freudiano. O homem contemporâneo, a despeito de todas as suas conquistas, é um sujeito derrotado pelo próprio espelho. Um inseto em repouso num galho de árvore concorre com  a nossa carência por aplausos! Vivemos, pois ,  uma crise de feições múltiplas. Amanhã, a Avenida Paulista est

Lutar pela Paz mesmo sendo uma “persona non grata”, meu senhor

Por Gilvaldo Quinzeiro  Em que pese a profusão de crenças e o crescimento espantoso de templos de todas as denominações, no Brasil há mais templos religiosos do que escolas e hospitais juntos, o mundo continua sendo um teatro, onde as tragédias são encenadas para agradar as diferentes plateias. E entre estas tragédias, as guerras...  As guerras, estas velhas senhoras, que sempre nos fizeram companhia, ora vestidas de santas, ora escancaradamente nuas, hoje, como no passado, beijam as finas mãos dos hipócritas ! As guerras, estas sim, meu senhor, cospem e gozam em nossas caras, toda vez que que deixamos a trégua escapar!   A grande vergonha, meu senhor, é a dúvida persistente em saber com quantos mortos chegamos à conclusão da existência de um genocídio?  Com qual número de mortos saciamos a nossa vingança? É disso que temos que nos envergonhar!  Não há vergonha em ser uma “persona non grata”, na defesa da paz, pelo contrário, isso é a coisa mais honrosa do que encontrar velhas justific